Entrevista Traduzida: ShortList – Setembro 2015

Fonte: shortlist
Tradução por Nataly Tedeschi.

A ShortList se encontra com o ator britânico que encarou os gêmeos Kray e venceu. Além disso, uma foto exclusiva do ator, tirada pelo inimitável David Bailey.

Entrevistar o Tom Hardy não é como entrevistar outras estrelas de cinema. Do momento em que ele chega – sozinho, vestindo calças de caminhadas e camiseta preta, dando baforadas em um aparentemente complexo cigarro eletrônico digital – imediatamente deixa claro que este não é alguém que se portará como se estivesse num tipo de dever promocional. Ele é muito, muito bacana (eu recebo um abraço no final da entrevista), mas sem dúvida há um nervosismo perto dele. Quando nos sentamos, começa assim:

Eu: Vou começar com uma pergunta óbvia, que é…

Hardy: Você já viu o filme?

Eu: Sim. Eu…

Hardy: Certo, bem, esta é a primeira pergunta, então. A segunda é: “O que você achou?”

Eu lhe digo que adorei, e o porquê, e ele ficou feliz (“É um p*** resultado!”). Quando passo a lhe fazer perguntas, as respostas dele – de novo, em contraste com outras estrelas de cinema, cujo objetivo é leva-las um pouco além dos monólogos sucintos e pré-prontos – são inteligentes e eloquentes, longas, detalhadas e proveitosas como um todo, desviando em tangentes derivadas de pensamentos que, claramente, ele acabara de formular. Ao final do nosso tempo previsto, nos disseram para concluir não uma, mas duas vezes, e mesmo assim ele ainda continuava, seguindo em teorias sobre filmes de gângsteres Americanos versus Britânicos e da vida e da humanidade e essas coisas (“Desculpe, cara, eu posso ficar falando pra sempre!”, ele ri). Ele começa falando com seriedade e sinceridade (“Todo o risco foi tomado pelo [escritor e diretor] Brian [Helgeland], pra ser justo…”), e então ele muda do nada para um falsete agudo e engraçado (“…em me deixar INTERPRETAR OS DOIS PAPÉIS, CARA!”).

Aliás, rapidamente, já que estamos no assunto sobre o jeito que ele fala…

A voz normal do Tom Hardy não é algo que pudemos conhecer na telona. Desde que ele criou – seja qual for a sua opinião sobre ela – a voz cinematográfica mais imitada da década em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, não estamos nem perto dela. Aquele sotaque galês carregado em Locke, a pronúncia baixa do Brooklyn em A Entrega, o sotaque russo em Crimes Ocultos: nós nunca a ouvimos. E isso talvez seja porque ela não exista. É de cinco anos atrás, mas se você assistir a participação dele no Jonathan Ross em 2010, onde ele fala muito bem, ele confessa que “às vezes pega sotaques, e às vezes eu não sei como eu vou soar até eu começar a falar “. Se você, em seguida, assistir outro vídeo dele, de uma participação na GMTV, de apenas um mês antes, enquanto ele fala com alguns jovens vindos de ambientes problemáticos, que faz parte de seu trabalho de caridade com o Princes’s Trust, ele fala com eles com um sotaque de um garoto de rua do sul de Londres. Hoje, pessoalmente, ele soa como uma mistura dos dois casos.

Um camaleão nato.

SENDO DOIS

O papel que nós estamos aqui para conversar hoje não envolve, pelos padrões do próprio Tom Hardy pelo menos, um grande alteração de sotaque. Mas foi “a coisa mais difícil que eu já fiz, tecnicamente”. Isso porque, como foi mencionado, ele interpreta não um, mas dois papéis. No mesmo filme. Você provavelmente já viu cartazes de Legend agora, mostrando Hardy como os dois gêmeos Kray. O que parece ser uma façanha ambiciosa, quase imprudente.

Hardy concorda. “Seria o caso de apenas um deles” ele diz. “Você escolhe um ator para interpretar dois personagens e, imediatamente, se torna fraco. Vai ficar um lixo. Apenas, não. É uma má ideia.”

Essa mesma “má ideia” chegou até ele quando encontrou pela primeira vez o roteirista e diretor Brian Helgeland (que havia escrito roteiros anteriormente para – nada menos que – Los Angeles: Cidade Proibida e Sobre Meninos e Lobos) para jantar. Brian queria que Hardy interpretasse Reggie (o hétero, macho alfa, mais certinho dos Kray). Já Hardy, que havia lido o roteiro e, claro, sendo o Tom Hardy, foi atraído pelo personagem mais complexo. “Eu falava tipo, ‘Bem, eu quero o Ronnie,’” ele diz. “Então, pra qual ator eu vou entregar o Ronnie, se eu interpretar o Reggie? Errrrgh… Não vou conseguir. Porque toda a diversão está ali! E o Reggie é muito certinho! Mas houve um momento em que eu poderia ter ficado só com o Reggie. Nós poderíamos ter encontrado um ator maravilhoso para interpretar o Ronnie, e teria sido o melhor pra tudo.”

Mas Helgeland sentiu a insatisfação no seu protagonista principal. “Estou sentado lá pensando, ‘Oh, ele quer fazer o Ron,’” ele me diz. “E a versão parafraseada é a que ao final do jantar, eu disse, ‘Eu te dou o Ron, se você me der o Reg.’”

E assim começou a busca deles para transformar uma ideia arriscada, potencialmente desastrosa, em algo especial (como o Brian coloca pra mim, “O filme poderia ter ido bem ou mal antes mesmo de alguém começar a trabalhar nele”). Hardy encontrou certo apoio na atuação de Sam Rockwell com dois personagens que interagiam em Lunar. “Sou um grande fã do Sam,” ele diz.

“E Lunar me deu motivos pra pensar, ‘Eu sei que é possível empurrar a si mesmo, criar um diálogo genuíno consigo mesmo.’ Então a partir daí é o campo minado técnico: você realmente pode criar autenticamente dois personagens dentro de um mesmo filme? De forma que o público deixe isso de lado e se interesse no filme? É o que é: são dois personagens interpretados pelo menos ator. Mas eu acho que chegamos a um ponto em que as pessoas se esquecem disso e estão genuinamente assistindo à história.”

Esse é o motivo “porque eu gostei do filme” que eu dei a ele no começo da entrevista. E é uma atuação extraordinária, ou um par de atuações, ou triunfo da direção técnica. A cena de abertura apresenta os dois Kray do Tom Hardy sentados no banco de trás de um carro, e parece estranho, mas muito rapidamente, dentro de 10 ou 15 minutos, você se acostuma e esquece que na verdade é o mesmo cara. Isso foi possível, em parte, pelo dublê de Mad Max do Hardy: um neozelandês chamado Jacob Tomuri.

“Ele herdou o trabalho mais difícil da minha carreira,” Hardy sorri. “Eu coloquei um óculos, fiz todas as cenas como Ron, depois tirei e fiz o Reg. E passamos por todas as cenas do filme, gravando em um iPhone. Então ele tinha todas as minhas cenas interpretando ambos personagens no iPhone dele. Na verdade ele interpretou os dois irmãos, teve que decorar todas as falas. Ele prestava atenção em dobro para acompanhar. Mas ele ultrapassou isso e, no final, acabava improvisando. Tem uma fala que acabou indo pro filme, onde o Ronnie fala ‘Eu o curvei como um pretzel, eu o machuquei pra ca***lho’”. “De onde veio aquilo?” Hardy fala, naquele falsete de novo. “Veio da Nova Zelândia.”

A HISTÓRIA DA ESPOSA

A outra grande provável armadilha, como Hardy a vê, era contribuir para a contínua glamorização e exaltação dos dois irmãos que eram, pra dizer o mínimo, não muito legais. De alguma forma eles se tornaram quase tão icônicos quanto figuras da era dos Anos 60 como os Beatles ou os Stones. Mas isso não é algo que Legend quer reforçar. “As pessoas devem abordar essas coisas pensando nas famílias das vítimas envolvidas do outro lado disso,” ele diz. “Antes de encontrar coragem para gostar de alguém, você precisa olhar para o histórico dela da melhor forma possível: as pessoas que se machucaram, os corpos, o sofrimento, pessoas que foram perseguidas, que viviam em terror, que perderam pessoas importantes de suas vidas com o surgimento desses dois homens. Tem que passar por cima de muita m***. E de muitas pessoas que não querem, com toda razão, ter qualquer coisa a ver com esses dois homens. E se eu fosse elas, eu também não ia querer me envolver, mas há também uma parte de mim que quer saber. Que quer entender.”

Então como fazer isso? Humanizar, de alguma maneira, tais pessoas?

“Acho que o primeiro ponto é, ‘Não seria bom ser capaz de fazer e dizer o que você quisesse no mundo, independente das ramificações e consequências?’ No fim, quando eu – nós – vamos ao cinema ou lemos um livro, ou nos refugiamos, nós reagimos à personagens que dizem, ‘F***-se: eu vou fazer o que eu quiser.’

E isso acontece porque nós não conseguimos fazer. Porque a maioria das pessoas se sentiria responsável.

A resposta para como Legend faria isso veio na forma de uma pessoa que realmente se sentiu responsável, chamada Frances Shea: a perturbada esposa de Reggie, que morreu em 1967. Interpretada por Emily Browning, ela se tornou o ponto principal do filme quando Helgeland conheceu o associado dos Kray Chris Lambrianou, que contou a ele que “Frances foi o motivo pelo qual todos nós fomos pra cadeia”.

“Nós poderíamos ter relatado mais da carnificina e do crime no filme,” disse Hardy. “Não que não esteja lá, mas o que você vê, na verdade, é o Reggie, o Ronnie e a Frances. Essa foi a dinâmica que focamos, aquele ambiente, que não havia sido visto antes. Como foi a dinâmica? Não sei se chegamos próximos à verdade, já que não estávamos lá. Mas esse era o cenário, como: a Frances Shea, com um futuro a sua frente, acaba presa em uma situação, e ninguém ao seu lado, o suicídio. Isso a mostra de uma forma pra mim como protagonista. Ela é quem esquecemos. Ronnie, Reggie, eles tiveram sua parte. Frances foi esquecida. E isso meio que liga tudo pra mim.”

FUTURAS LENDAS

Os elogios iniciais para Legend têm sido muitos, mas na cabeça do Tom Hardy, ele não tem tempo para aproveitar isso agora. Existem outros projetos bastante desafiantes a seguir. Chegando no Outono vem O Regresso, estrelando seu bom amigo Leonardo DiCaprio e dirigido por Alejandro Iñárritu, de Birdman. O trailer, assim como a tendência das grandes barbas e mal nenhum, indica que ele será páreo para Mad Max em termos de uma implacável intensidade. Mais para o futuro, há a cinebiografia de Elton John, Rocketman (o desafio inicial? Hardy “não sabe cantar”) e outra excursão em uma adaptação de quadrinhos com 100 Balas (notícia que surgiu logo após nossa entrevista).

E neste momento, nesta semana, ele está trabalhando numa série da BBC chamada Taboo, que se passa em 1813 e estrela Hardy como um aventureiro que volta da África e constrói um império do transporte. A história foi desenvolvida pela sua produtora Hardy Son & Baker (criada com seu pai, Chips) e foi escrita e dirigida pelo criador de Locke/Peaky Blinders Steven Knight, com Ridley Scott também como produtor executivo.

“Temos nas mãos algo realmente impressionante”, diz Hardy. “E estamos tentando construí-lo. Eu nunca produzi nada antes, então basicamente eu não sei o que estou fazendo. Mas eu tenho algumas opções e soluções: se disser que algo não está dando certo, é melhor descobrir pelo menos outras quatro soluções diferentes. Mas é bom. Só é diferente.”

Um outro dia, um outro grande desafio. Uma outra chance de fazer algo diferente. Não é uma vida fácil ser Tom Hardy. Mas também jamais será entediante, e isso é uma boa notícia pra nós.”

3 Comments on “Entrevista Traduzida: ShortList – Setembro 2015”

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